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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O que mudou no mercado de quadrinhos nos últimos 40 anos?

O Brasil lançou neste ano de 2007 uma diversidade maior de títulos em quadrinhos do que há exatos 40 anos. O mercado também possui mais editoras e diversificou pontos de venda de quadrinhos, embora as bancas ainda dominem. Essas são conclusões de uma comparação feita entre o mercado atual de quadrinhos e o registrado em 1967 por um grupo de pesquisadores da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo.O estudo, um dos primeiros da área feitos no país, mapeou o mercado de quadrinhos da época. É o único desse porte realizado no Brasil.

A equipe foi organizada pelo professor de comunicação José Marques de Melo, que hoje atua na pós-graduação da Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC.


O resultado foi publicado anos depois no livro “Comunicação Social – Teoria e Pesquisa”, organizado por Melo e lançado pela editora Vozes.


A pesquisa tomou como base os títulos lançados em bancas entre os meses de agosto e novembro de 1967.


O levantamento registrou apenas as revistas chamadas “regulares”, ou seja, com periodicidade fixa (quinzenal, mensal, bimestral, trimestral).


Quarenta anos depois, o blog atualizou parte dessa pesquisa, também tomando como base os meses de agosto a novembro.


A comparação entre os dois estudos permite uma leitura mais precisa e fundamentada do atual mercado de quadrinhos.


Bancas


O número de títulos regulares lançados nas bancas em 2007 foi menor se comparado com o levantamento anterior.


Houve uma média de 121 publicações regulares entre agosto e novembro de 1967.


O levantamento de 40 anos atrás incluiu fotonovelas como um dos gêneros dos quadrinhos. Essas histórias eram publicadas em revistas voltadas ao público feminino, como “Capricho” e “Contigo”, e representavam 15,7% dos lançamentos.


Em 2007, que não registra mais fotonovelas, a média foi de 84 títulos regulares.


Esse número, no entanto, aumenta se forem somadas as publicações não regulares, como álbuns, minisséries e revistas sem periodicidade fixa.


Nesse outro cenário, 2007 registra média de 110 títulos.


Editoras


Há mais editoras hoje atuando nas bancas do que há 40 anos.


São pelo menos 11 em 2007, contra dez na época da primeira pesquisa.


Hoje, investem no setor as editoras Abril, Conrad, Globo, JBC, Lumus, Mythos, Panini, Pixel, New Tokyo, On-Line e LB3.


Esse número, entretanto, é maior. Há outras editoras, como HQM, L&PM e Devir, que mantém títulos esporadicamente em algumas bancas de grande porte.


Há 40 anos, as editoras eram Ebal (Editora Brasil-América Ltda.), Rio Gráfica Editora, O Cruzeiro, Vecchi, Bloch, Abril, La Selva, Novo Mundo, Taika e Graúna.


Abril e Rio Gráfica (esta rebatizada de Globo) foram as únicas que se mantiveram no mercado de quadrinhos nesse periodo.


Vecchi e Bloch, na época, investiam exclusivamente em fotonovelas.


Material estrangeiro


Segundo a pesquisa feita em 1967, 70% das obras vendidas nas bancas tinham material estrangeiro.


Esse número, hoje, é maior. 84,1% das revistas de banca têm conteúdo importado de outros países, principalmente Estados Unidos e Japão.


Das 15,9% revistas com histórias nacionais, todas são infantis.


Troca de gêneros


Terror e fotonovela, dois gêneros com títulos regulares em 1967, sumiram das bancas em 2007.


As fotonovelas, em especial, representavam as maiores vendagens da época. A recordista era a “Capricho”, com tiragem média de 461.776 exemplares.


A título de comparação, a revista infantil de maior tiragem era “Mickey”: média de 334.508 exemplares por mês.


No lugar do terror e da fotonovela, há presença em 2007 dos mangás e manhwás, nomes como são conhecidos, respectivamente, os quadrinhos japoneses e sul-coreanos.


Os mangás e manwás representaram entre agosto e dezembro de 2007 18,6% dos quadrinhos regulares e não-regulares vendidos em bancas.


Tiragem


Não há dados oficiais ou confiáveis hoje sobre tiragem de quadrinhos no Brasil.


Por isso, não foi possível fazer uma comparação entre os dois períodos.


Mas é possível perceber alguns sinais de que as vendas são menores.


A revista de “Recruta Zero” tinha, em 1967, tiragem de 75 mil exemplares/mês.


Em dezembro de 2006, a editora Mythos recolou a revista no mercado. A publicação foi cancelada meses depois por falta de compradores.


Outro dado são as revistas Disney. Quatro delas, “Mickey”, “Tio Patinhas”, “Pato Donald” e “Zé Carioca” (as duas últimas quinzenais), somavam quase 1,114 milhões de exemplares.


Estima-se que hoje a única franquia que faça frente a esses números seja a dos personagens criados por Mauricio de Sousa.


O desenhista e empresário publica mais que o dobro de títulos do que a Disney apresentava há 40 anos. A média é de oito revistas mensais e duas bimestrais.


Segundo a assessoria da Panini, que edita a Turma da Mônica, houve neste ano crescimento de 12% das vendas em relação a 2006, quando as revistas eram publicadas pela Globo.


Outros dados


A comparação, até este ponto, tomou como base os mesmos critérios da primeira pesquisa, ou seja, verificar o número de quadrinhos regulares presente em bancas.


Ampliando o escopo atual, é possível observar outras diferenças em relação a 1967:


* Hoje há pelo menos 24 editoras que mexem especificamente (Panini, Conrad) ou parcialmente (Companhia das Letras, Jorge Zahar) com quadrinhos.

* As bancas continuam sendo o principal ponto de venda. Representam, em 2007, 88% do mercado (se desconsiderada a internet).

* Apesar disso, a maioria das editoras (70,8%) investe em livrarias, que representam 12% do setor. Algumas, como a Panini e a Conrad, vendem tanto em livrarias quanto em bancas.

* A presença nas livrarias diversificou os gêneros de títulos lançados hoje no país, de jornalismo em quadrinhos a adaptações literárias. A ida às livrarias também tem conseguido chamar a atenção de um leitor adulto, com maior poder aquisitivo.

* Livrarias, internet e lojas especializadas em quadrinhos representam novos pontos de venda de quadrinhos, inexistentes em 1967. A editora gaúcha L&PM tem feito parcerias com farmácias também.

* A média de lançamentos entre bancas e livrarias é de 125 títulos por mês (contra 121 nas bancas em 1967, que não levava em conta os títulos não-regulares). O número aumenta se forem consideradas as revistas independentes (que tem média de três a quatro publicações por mês). É bem possível que haja hoje mais quadrinhos publicados do que há 40 anos.

* A Panini é a editora que mais publica quadrinhos no país. De cada dez lançamentos, seis são da editora multinacional.

* A presença da Panini no Brasil – a editora começou a investir em quadrinhos no país no início do século – mudou o mercado nacional, principalmente o de bancas, que registrava anos atrás um interesse editorial visivelmente menor.

* Super-heróis são o gênero que tem mais títulos lançados no Brasil. Representam média 24,5% dos títulos regulares publicados entre agosto e novembro de 2007. Essa fatia do mercado aumenta se forem considerados os álbuns e minisséries (tidos como não-regulares). Revistas exclusivamente Infantis representam 23,5% das publicações.


(Paulo Ramos)


Fonte: Os Armênios

Fonte: Blog dos Quadrinhos

2 comentários:

Anônimo disse...

Sua pesquisa salvou a minha, obrigado.

laurofonseca@yahoo.com.br

JG Fajardo - Pintor hiper realista disse...

Sou do Rio e não posso me furtar de falar dos quadrinhos nacionais, especialmente de uma editora, a Ebal. A relação delas a HQ Pai d'Égua já as mencionou na abertura deste blog.
Esta editora, Ebal, de São Cristóvão, Rio, foi realmente a mais ambiciosa delas, porque, produzia uma quantidade enorme de títulos e os derramava país a fora, através das bancas e reembolsos postais. A Ebal, talvez, tenha sido uma das mais corajosas a defender o valor das histórias em quadrinhos, em gibis para seu público. Havia muita oposição de conservadores, jornalistas, políticos e a opinião pública cristã. O Sr. Adolfo Aizen diversas vezes deu entrevistas, onde afirmava que a leitura cotidiana de gibis também contribuia para o vocabulário falado e escrito dos jovens e leitores dedicados ao tema. Isso foi uma postura de líder, de pioneiro, de alguém que tinha comprometimento com a causa que acreditava. Parabéns a HQ Pai d'Égua e obrigado pelo espaço,pois também sou fã de quadrinhos e vivo de minha arte, a pintura a óleo.
J G Fajardo